Revirei tudo! Armários, gavetas, caixas... Cheguei em casa decidida... entrei em meu quarto e comecei a revirar tudo. A semana não foi muito boa, muitos compromissos para pouco tempo. Tempo escasso... tempo ingrato. Estive estes dias de mau humor; TPM, dinheiro curto, pessoas chatas ao meu redor... ou será que a chata sou eu? Estressada, indolente, triste! Dias frios. Uma vontade de ficar embaixo das cobertas e dormir o dia inteiro... acordar só o ano que vem. Mas a vida me cobra! Atitude, mulher! Ouço a voz do subconsciente me chamando... Coragem! Vamos lá! Mas uma vez ouvi... Epa! Enlouqueci? Não! Acho que não. É a voz da razão. Loucura é continuar acreditando nestes sonhos que não fazem mais sentido. Loucura é esperar o improvável, o impossível. Por isso, hoje decidi! Voltando de alguns compromissos, parada impaciente, no trânsito complicado, me peguei pensando... Pensando em dar um basta nesta incontrolável vontade de recuperar o que não tem mais volta, nesta ânsia de achar que posso reverter o que não posso mudar. Não depende mais de mim. É isto e pronto! Decidi então assim: vou me libertar das lembranças que tento agarrar como um náufrago no mar perdido. Vou tirar este peso do meu coração e tentar encarar a rota do destino, com mais leveza. Vou revirar tudo, vou atrás do meu baú de recordações e sem abri-lo, me desfazer dele. Procurar meus poemas, escritos numa noite qualquer de solidão e queimar tudo. Vou atrás de cada detalhe que me remeta ao passado; meus discos antigos, as cartas amareladas pelo tempo, os presentes em desuso... vou levar tudo embora. Colocar tudo no carro e ao passar pelo rio que corta a cidade, atirar tudo na correnteza. Deixar que as águas levem embora as minhas mais doces lembranças. Que levem meu passado que me pesa tanto, para bem longe daqui. Poluição para o rio? Talvez sim... talvez não. Mas uma coisa é certa: poluição para o meu coração, não quero mais! Pronto! Fui lá! Desfiz de tudo! Voltei pra casa mais leve... Banho tomado, cabelo molhado, deitei em minha cama e pela fresta da janela, contemplei mais uma noite fria que chegava. Ao acomodar melhor o travesseiro, o destino mais uma vez me pregou uma peça, como se alguém quisesse me dizer: "EU continuo por aqui!" Embaixo do travesseiro, encontrei SUA FOTO!!!
por Marici França, 6 de setembro de 2022 às 20 horas de uma noite muito fria de inverno
Lindo!!! É bem assim que acontece.