Mundo... Mundo... O que foi feito de ti??

Incoerência total! Fomos doutrinados que o saudável, que o correto, eram demonstrações de afetos, de carinhos, de presenças. E eu sempre cumpri à risca estes ensinamentos.

Ah! Sempre fui cercada de grandes amizades, principalmente na adolescência e juventude. Ah! Velhos e bons tempos!

Andar em turma, sentar na calçada e conversar até de madrugada, trabalhos escolares em grupo, cada vez na casa de um. Grandes encontros com a galera de amigos, nas reuniões dos jovens no sábado à tarde, depois o ensaio do coral com os garotos que tocavam na missa das dez aos domingos, e à noite tinha a quermesse. Antigamente lá na paróquia do meu bairro, tinha quermesse nos finais de semana, durante o ano todo. E assim o fim de semana era pouco para tantos compromissos, para tantos encontros, para tanta troca de confidências, para tantas risadas.

E tinha as brincadeiras no pátio da igreja, logo após a missa. A gente ia pra casa só pra almoçar; à tarde nos reuníamos novamente no salão social, nos inesquecíveis shows que os meninos faziam com o grupo musical que eles formaram .

E durante a semana o pessoal se reunia no pátio do ginásio que era o único no bairro. Tudo era motivo para a galera se reunir e o papo rolar solto. Década de final dos anos 60 e depois início de 70... vivíamos a ditadura... mas este assunto não era papo pra nós. O país sendo passado a limpo numa história que presenciamos de longe. Éramos alienados a estas questões. Nossa realidade era viver os embalos daquela juventude tão saudável.... Vivíamos embalados pelas melhores músicas românticas que já ouvimos, pelos bailinhos de rosto colado, pelos nossos cabeludos preferidos, pela moda da velha calça Lee desbotada, "boca de sino", pelas provocantes mini saias e éramos felizes! Ah como éramos felizes!

Não havia vícios, não sabíamos o que eram drogas... Não havia preconceitos, não havia discussão sobre relação homoafetiva... (nem imaginávamos o que era isso). Tantas boas amizades que entraram e saíram de nossas vidas... poucos permaneceram... eu até consegui reencontrar alguns com o advento da internet... alguns morreram... e o que foi importante, ficou!

Os anos passaram depressa demais... envelhecemos cedo demais. E hoje, na sofreguidão das noites solitárias e silenciosas, bate uma saudades tão grande no peito... E uma música

antiga, que toca baixinho na playlist do celular, traz à tona uma recordação doida e uma lágrima quente, desce no canto do olho.

Tudo bem que são outros tempos... que o mundo mudou o seu contexto essencial... e agora a minha geração se sente um estranho, neste mundo louco e descompassado.

E agora, "eles" querem nos ditar novas ordens, novas regras... E "eles" dizem: "nova realidade!" Não saiam de casa, não recebam e nem visitem ninguém. Ninguém! Nem seus filhos, nem seus netos... Difícil, hein? E se ocasionalmente encontrar alguém, não se aproxime! Não toque! Não beije! Não abrace!

Mundo !!! Mundo!!! O que foi feito de ti???

Eles falam em pandemia, uma "gripe" que é transmitida facilmente e que mata! Antigamente a gente curava uma gripe, com um chá de alho com limão bem quente, uma boa coberta e cama. Hoje, se pegar a gripe pode- se morrer. Morrer asfixiado em sua própria solidão, porque nem visita se pode receber... e se morrer, nem despedida terá; velório também não pode ter.

E eu... eu me pergunto: "o que posso ter? O que posso fazer?"

Um dia, me foi ensinado que era saudável e necessário, o conviver com as pessoas, manifestando todas as formas de amor. Não era isso? Não era assim que a gente era feliz?

Precisávamos de tão pouco para ser feliz...

O que mudou? Onde foi o grande "escorregão" do mundo?

O mundo mudou ou eu mudei?... ou nós mudamos o mundo?

Onde? Onde erramos???

por Marici França, 23 de julho de 2020 às 1h51