Dia 15.03.2021 ... Um ano hoje! Um ano que estou isolada. Me falaram que era uma quarentena e eu, ingenuamente acreditei. Acreditei que seria literalmente como na expressão da palavra; quarenta dias... Ah! Ledo engano! E um ano se passou! Tantas perdas, tanto sofrimento, tantas mudanças desordenadas de táticas adotadas pelos governantes, tantas informações desencontradas, e nós pobres mortais, completamente sem rumo, sem sabermos onde isto nos levará. Que loucura! Isolamento! Isolar-se na vida, para preservar a vida. Meu Deus! Será o fim dos tempos? E hoje acordei com uma vontade louca de esquecer os limites, de desobedecer igual a uma criança peralta e infringir regras e sair! Sair andando loucamente... sem destino, sem horário e falar... falar com as pessoas que cruzarem por mim e abraçar todo mundo Quero falar! Preciso falar! Preciso escutar a minha voz! Tanto tempo confinada em um espaço de 70 metros, sem conversar com ninguém, que às vezes, penso: será que a gente não esquece o falar? Às vezes, acho que minha voz adquiriu uma pequena rouquidão que antes eu não tinha... será que as cordas vocais não atrofiam? Ah que loucura estou dizendo? Às vezes, leio em voz alta, ouço minhas músicas preferidas e canto... Canto junto, canto muito... Adoro! Se sei cantar? Sei nada! Nenhum talento... apenas pelo prazer de cantar, preciso ouvir a minha voz. Às vezes, chego ao limite da loucura... sabe aquela louca, que de vez em quando, se pega falando sozinha... estou assim! Preciso justificar a minha insanidade? O nome disto é: solidão! Há quanto tempo não converso pessoalmente com alguém? Só por telefone. Apesar de ser só o que nos resta, não preenche, não satisfaz. Quero presença! Quero abraço! Quero ver pessoas diferentes. Uma gama de amigos e pouquíssimos, raros... quase nenhum liga. Se bem que eu também não ligo: tenho receio de atrapalhar... Penso que as pessoas têm seus compromissos, muitos trabalhando online, muitos têm família em casa para cuidar, para conversar... Ah, quem vai querer ouvir as minhas lamúrias? quem vai escutar o meu silêncio? Afinal, se estamos todos no mesmo barco, se todos vivemos este momento de pandemia; do que me queixo? E quando a noite chega, então é o pior... uma impotência de se sentir só com suas angústias e inquietações, a terrível sensação de sintomas imaginários, a insônia. É a incerteza, a imprevisão de tudo, o medo, a solidão, o silêncio, a saudades. Uma louca e infinita saudades... saudades das pessoas, saudades da vida, saudades da liberdade. Somos prisioneiros de um inimigo invisível, que chegou com um único propósito: ou você aprende ou se arrepende. Aprende a viver este novo modo de viver, ou adquire o vírus e se arrepende de ter ido viver o antes. Como diz o cantor Lulu Santos: "NADA DO QUE FOI SERÁ, DE NOVO DO JEITO QUE JÁ FOI UM DIA..."
Por Marici França, 15 de março de 2021
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