Em devaneio, me peguei pensando como seria nosso encontro depois de cinquenta anos... Cadê você? Sei que é você e, no entanto, não te reconheço mais! Nem a mim reconheço! O que foi feito de nós? Como o tempo pode ter sido tão ingrato e tão injusto conosco?
Procurei o rapaz altivo, alegre e não encontrei... Procurei o rapaz galanteador, de sorriso atrevido. O rapaz do olhar invasivo que penetrava até a alma e, não encontrei... Procurei o meu cantor da voz rouca e sedutora... Procurei suas mãos quentes e macias...
Procurei tanto por você e só vi um senhorzinho frágil. E nada elegante. Face enrugada, olhar indolente, cabelos brancos. é esta pessoa que se aproxima em passos lentos. Eu diria: uma pessoa estranha a mim. Deus meu! Cadê o meu menino por quem um dia, na infância, me apaixonei? Cadê aquele rosto bonito e jovem que nunca mais esqueci? Aquele amor que sempre carreguei... E eu, então? Como ele me vê? Será que ainda tem memória para lembrar-se de mim? Para lembrar de tudo o que vivemos?
Queria tanto falar de nós... Queria tanto cobrar pelas juras de amor... Queria relembrar as gargalhadas que demos, as tristezas que dividimos... Ah! Como ele me veria, se a vida nos permitisse um reencontro, uma volta ao passado? Será que ele teria essa mesma visão decepcionante que tenho? Será que ele também estaria em busca daquela garota por quem se apaixonou um dia?
Também envelheci! Também não me reconheço quando olho no espelho. Uma busca incessante de quem fui... de quem você foi. Fomos o nosso melhor momento!
Um choque de realidade me trouxe à tona! Foi só devaneio! Utopia que tento idealizar, pra ver se a saudade diminui. Nada mais é possível! Talvez um encontro lá no outro infinito e a gente se reconheça. Se reconheça só no olhar. Aquele olhar especial e cúmplice que sempre nos ligou. Quem sabe?
por Marici França, 4 de março de 2023 às 15 horas
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